Hábitos e habitantes

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A formação é a habitual do rock (duas guitarras, baixo e bateria), as dinâmicas tem algo de jazz e funk e a sonoridade paraense ecoa de vez em quando. HAB é um projeto do pelo guitarrista Guilherme Valério e as seis faixas do seu primeiro disco resultam em um som bem autoral, difícil de enquadrar — quase sempre um bom sinal. Completam a banda: o baixista Marcos Gerez (do Hurtmold), o guitarrista Marcos Nalesso e o baterista Thiago Babalu (embora Maurício Takara tenha empunhado as baquetas nas gravações). O músico respondeu nossas breves perguntas por email. Leia a entrevista abaixo e baixe o trampo no site do HAB!

Por que HAB?
Iniciamos em 2013 como Habitante, mas descobrimos a existência de um projeto musical com esse mesmo nome e o Marcos sugeriu que mudássemos para HAB. Curtimos a ideia de só quebrar a palavra e manter o significado inicial.

Como surgiu esse projeto? Você já vinha colaborando com outras bandas e agora tem esse trabalho um pouco mais focado nas sua guitarra. Era um desejo seu lançar algo mais autoral?
Acho que sim. O fato de eu colaborar com outros projetos me incentivou e influenciou a dar continuidade a ideias que foram surgindo ao longo da minha trajetória. O HAB aconteceu de maneira muito natural, a partir de umas gravações que fiz em casa, registros de idéias que eu tinha e já pensava em tocar e gravar com banda. Acho que essa necessidade surgiu no período em que morei em Amsterdam, entre 2004 e 2007. Lá eu comprei uma bateria eletrônica e uma guitarra, assisti muitos shows, me inspirei e toquei muito sozinho. Acho que esse momento foi crucial pra encontrar intimidade com a minha música. Acredito que o exercício de tocar, seja sozinho ou com banda, acaba virando uma engrenagem, é difícil de parar. A gente também vai ficando mais velho e quer aproveitar o tempo com atividades mais produtivas. O autoral nesse sentido preencheu mais as lacunas da busca pelo meu próprio estilo de tocar guitarra, algo que ainda estou e continuarei buscando. O processo de criação sempre foi colaborativo, mas no começo eu levava as bases e a gente desenvolvia juntos. Hoje parte de todo mundo, já tem uma pegada mais de banda.

Esse é um daqueles discos que jornalistas tem de fazer um esforço tremendo para descrever o som. Como você definiria?
É música intuitiva, experimentação livre, basicamente. Mas claro que tem racionalidade na hora de montarmos o quebra-cabeça. Viemos todos de bandas de rock/punk, essa formação influencia muito no som, mas buscamos não nos apegar a isso justamente por ser uma influência muito irraizada. É uma banda de rock, mas tentamos incorporar outras linguagens. Tem o lance dos temas, uma influência clara do jazz; as dinâmicas inspiradas pelo funk norte-americano; a pegada percussiva, influência da música africana. Acho que essas primeiras seis músicas vão direto ao ponto, mas é difícil pra nós também pensar em alguma definição.

E esse lance de cantar, como apareceu?
Acho que fui me interessando mais por cantar quando a música começou a se apresentar pra mim em forma de canção, e isso aconteceu quando comecei a ouvir mais música brasileira. Sou de uma geração que achava que era melhor escrever em inglês “porque soava melhor”, mas sempre senti que isso acabava fazendo a gente perder a naturalidade. Faz um tempo que estou exercitando escrever e cantar em português e um dia simplesmente surgiu essa primeira música “Em tempo”. Gostamos e agora estamos ensaiando mais duas com voz também.

Você agora é integrante da banda do Guizado, assim como o Babalú e o Marcos Gerez, baterista e baixista do HAB. A ideia é levar um pouco das dinâmicas que vocês trabalham de um projeto para o outro ou vocês preferem experimentar de um jeito diferente para deixar as coisas bem distintas?
Acho que por tocarmos muito juntos, a comunicação e entendimento da banda ajuda na hora de tocar com outros artistas. O Guizado é um exemplo disso, rolou um entrosamento legal. A nossa ideia é poder levar essa dinâmica pra outros projetos sim, de outros artistas, de outros estilos. Essa formacão clássica de banda, com 2 guitarras, baixo e bateria permite que a gente se expresse de maneira versátil, conforme o que cada projeto pedir. E essa flexibilidade, que é característica da música livre, vai sempre gerar resultados distintos. Mudou uma pessoa, a interpretação já se altera, a química muda, e assim nós e a música ganhamos em diversidade.

(Por Ramiro Zwetsch)

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