Tincoãs digitais

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Há uma música do disco “Cinco Sentidos” (2010), de Mateus Aleluia, em que a letra fala: “vamos celebrar / o amor há de renascer das cinzas / vamos festejar o cinza com amor”. “Amor Cinza” é presença quase certa no repertório dos shows do compositor baiano e seu efeito catártico é infalível. O refrão torna-se um mantra que todos cantam — mesmo quem nunca ouviu a canção antes. É a mágica da melodia e das palavras. Parece também um lema possível para o processo constante de redescoberta da música d’Os Tincoãs, do qual Aleluia fez parte nas décadas de 60, 70 e 80. A boa nova é que, desde a semana passada, parte grande da obra do grupo foi lançada nas plataformas digitais.

O catálogo que foi disponibilizado é o que pertence à Sony Music: os LPs “O Africanto dos Tincoãs” (1975) e “Os Tincoãs” (1977), além das gravações de quatro compactos lançados entre 1976 e 1982. Ainda é aguardada a liberação do LP “Os Tincoãs” (de 1973), cujos direitos são da Universal Music. “Esse acordo é fruto de uma longa pesquisa e negociação para disponibilizar o acervo”, diz a advogada Monyca Motta, que representa Mateus Aleluia e a obra do grupo. Ela é também uma das idealizadoras do projeto do livro “Nós, Os Tincoãs”, lançado em 2017, que compila textos sobre a importância histórica do trio vocal de Cachoeira (Bahia) e traz três CDs encartados.

A chegada às plataformas digitais é mais um passo na direção da consagração do legado, que deve ser compreendido como fundamental à música brasileira e há de alcançar cada vez mais ouvidos e almas. A combinação de cantos afrorreligiosos com sofisticadas harmonias vocais e arranjos inspirados (com ênfase no violão, na percussão e em poderosos acompanhamentos de metais) é uma das mais bem elaboradas abordagens artísticas para os toques de terreiro. Vamos festejar os Tincoãs — com amor.

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